Ninfetas, Ulisses e explicações menos glamorosas...


#AVerSeNosEntedemos... decidi inaugurar esta rúbrica nesta fase da vida porque me importa que realmente nos entendamos... é uma angústia e uma contaminação delirante e colectiva, além duma farsa, quando assim não é.

Rapidamente senti os dedos apontados daqueles que se lembram de outras rúbricas que entretanto abandonei... houve em tempos #afelicidadeeh... "durou pouco"... primeiro porque durante algum tempo viver a felicidade me foi ocupando e depois por falta de conteúdo... mas "durou pouco", principalmente, porque nunca seria demais... agora inicia-se esta... logo se vê quanto dura.

Importa-me hoje esclarecer o que está por detrás da transformação do divorciado/a numa ninfeta ou Ulisses. Regra mais ou menos geral, um/a divorciado/a é imensamente mais atraente do que quando casado/a... parece quase uma provocação ou vingança dirigida ao enlutado, seja este o abandonado ou quem abandona... e será em parte disso que se trata, de uma pequena provocação, uma vingançazinha... mas sê-lo-á numa menor escala do que se imagina. Senão vejamos, a bem da verdade... O/a divorciado/a recupera rapidamente a forma e redescobre todo o esplendor do seu estilo... explicação menos glamorosa: não vai ao supermercado e não se fecha em casa em exercícios solitários de alta cozinha, salta o pequeno-almoço e outras refeições... eventualmente tem mais tempo para ginásios e outras actividades físicas... janta fora com frequência e come regra geral mal... mas continua sem engordar porque o stress e as noites mal dormidas consomem mais calorias que o cross-fit, a zumba, o surf e a escalada. Redescobre todo um guarda-roupa negligenciado e as criativas combinações que daqui resultam... vai ainda fazendo umas aquisições mais arrojafas e impulsivas... a sweat negligé, o top decotado e as sapatilhas esdrúxulas que até ali não ousou comprar ou usar.

O/a divorciado/a torna-se também repentinamente o ser mais activo e energético lá do bairro... enfim, a companhia de sonho de qualquer amigo/a solteirão/ona, que entretanto se torna a sua claque... Mas ganha-lhe, porque o sofrimento faz de qualquer um filósofo e inspira o cuidado maternal e a compulsão pelo desafio que há em todos nós, logo também nos outros à volta. O/a divorciado/a ganha ao/à amigo/a solteiro/a porque o cocktail de neuroquímicos, vulgo hormonas e outros neuromoduladores, que acompanha a desintoxicação, que "é o que é" qualquer luto pós-ruptura, vale mais que 10 redbulls e 5 linhas de cocaína. Numa semana, o/a divorciado/a vai a 5 festivais de verão, 150 exposições e sessões de cinema alternativo, janta 1000 vezes fora e esgota outras tantas madrugadas a dançar e beber como se não houvesse amanhã... E é disso que se trata... de travar e fintar o "amanhã", tanto quanto o "ontem"... tanto quanto se pode...

Explicação (muito) menos glamorosa: o/a divorciado/a não está repleto/a de vida.. está cheio/a de nada, da perda e do vazio. Não há nada de glamoroso aqui, apenas sofrimento e desespero.

Quem se interessa pela adolescência e identidade, pela crise e transformação, sabe também que o problema não está na repetição da adolescência identitária... o problema está na adolescência que não termina... porque há sempre amanhã, como há sempre "ontem", até que... já não há... e quando já não há "aquele", amanhã ou ontem, haverá outro com certeza, nem que seja um "outro qualquer". O que sobrou e o que, mais ou menos, criamos ou... aquele em que tropeçamos. 

Tenho vivido o glamour da vida de divorciada... é divertido, sim sra! É também cansativo, por vezes frustrante porque "poucochinho" e vazio... é "melhor do que nada"... mas é uma farsa... Espero um "amanhã" mais verdadeiro, faço por construí-lo com a energia que me sobra, para que não demore...
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