Sobre o tinder, a lei do trabalho e a política de (i)migração



Ontem lia, no "Eterno retorno do fascismo", do Rob Riemen, que vivemos num mundo em que trocamos os "intelectuais insubstituíveis" pelos que se podem substituir... Aquilo inquietou-me e permaneceu... Já tinha ouvido, como vocês, o aviso-ameaça múltiplas vezes... Mas talvez a palavra "intelectuais" na expressão me tenha servido de alerta maior...

Entretanto fui juntando a essa inquietação outras que já vinha guardando... Pensei no risco da ilusão e nas aparentes e infindáveis opções que nos "proporciona" o tinder e outros aplicativos das relações modernas, no semelhante grau de descompromisso e instrumentalismo que hoje encontramos nas políticas laborais, sociais, económicas e de imigração... no Trump, nos sem-abrigo e na exclusão, no abandono de animais e no frio dos campos de refugiados na Grécia…

Surgiu-me como imperativo o desejo de que me/vos escolham por ser/mos mais do que bonita/os... iguais, úteis ou serventes... por ser/mos mais do que projeções de um ego, reflexos num espelho narcísico, peças de uma engrenagem...

Porque me parece premente que deixemos de nos olhar como objectos substituíveis à luz de necessidades temporárias, acessórias e mundanas... quando estas são, na verdade, sempre expressões, menores e circunscritas, de necessidades permanentes, estruturais e essenciais. Falo das grandes obras da humanidade, de construir um mundo melhor, da solidariedade, da liberdade e da justiça, de amar e ser amado.

Quando procuramos nos outros apenas o que desejamos num determinado e pouco ambicioso momento no curto tempo de uma parte da nossa história, procuramos tão só a satisfação das nossas necessidades temporárias, acessórias, mundanas... e, neste cenário, qualquer outr@ serve... tod@s são substituíveis... Até nós.

Podemos dizer que a culpa é da revolução industrial, do Henry Ford e da produção em série... do machismo, do feminismo... da perda dos valores essenciais da igreja ou de uma qualquer religião... Mas não é verdade. A culpa é nossa. De cada um de nós, que de cidadã/os e indivíduos nos tornamos num colectivo massificado em vez de numa massa crítica colectiva... que competimos em vez de cooperar.


O que @s outr@s têm para nos oferecer e ao mundo, é o que têm de único e insubstituível, precisemos ou não, saibamo-lo e reconheçamo-lo ou não, no imediato. Aquilo com que podem contribuir para (co)construir conosco um outro estado de coisas, respostas a necessidades que desconhecíamos, uma felicidade ou um sucesso além dos que sonhámos, isso é o que el@s, @s outr@s, têm de único e insubstituível. Daqui decorrem o valores supremos da diversidade e da fidelidade...

E assim é... nos negócios e no trabalho, na política e na sociedade... na natureza... nas relações e no Amor...

Eu tenho mil pensamentos por minuto, digo baboseiras, acredito no Amor nos tempos do tinder, olho para detalhes e penso em questões (demasiado) "largas", acredito na justiça e na igualdade, na bondade e no poder da verdade... quero mudar o mundo e com ele não me conformo, sou frágil e opininativa, chata, perfeccionista mas imperfeita, teimosa mas curiosa, demasiado ambiciosa, inquieta e, por isso, desorganizada e sempre apressada... Não vivo nos sonhos dos outros, mas nos meus. Estou pronta para que sonhemos juntos... e, nisto, sou insubstituível.


E tu? Achas que há outr@ igual, a mim/a ti, no "catálogo" do tinder ou numa pilha de curricula? Não deixes que te façam acreditar nessa mentira.

Todos somos insubstituíveis... graças a Deus ou ao universo que assim nos fez...


#AVerSeNosEntedemos

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