Em bicos de pés


Escrevo-te em bicos de pés
com o som do mar no olhar
e o sabor do vento na boca
Sei-te perto e não te esqueço

Lembras-me o som das ondas
e uma tarde de verão
que se alongou pelo laranja das nuvens

As palavras são soltas
das que se encontram em qualquer calçada
caídas do bolso de todos os que passam
Circulam para trás e para diante… eles… os outros. Todos


Todos sabem que nada se faz nesta vida
que valha a pena contar com amor
Todos acham que não fazem o suficiente
E as tardes sucedem-se às manhãs e as manhãs às noites
e o tempo não termina de suceder
e a vida tarda em acontecer


Vamos adormecidos para trás e para diante. Todos
Deixamos cair as palavras do bolso e esquecemos o caminho

Um dia voltaremos ao início
sem sabermos que de lá partimos um dia
há muito muito tempo atrás
E quando lá voltar
mesmo sem saber que já lá havia estado
desejo entrar-te pelo olhar

Porque assim serei feliz
mesmo que a andar como todos
para trás e para diante
mesmo que esquecendo o caminho
e espalhando palavras pela calçada

Escrevo-te com as palavras que me restam no bolso
para que não me caiam
Escrevo-te em bicos de pés
porque já não pouso como os outros todos os pés no chão

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