Sem título #1
Foste embora sem querer saber se voltavas
Vi-te ir mesmo antes de saires e quando foste mesmo não sabendo já não voltavas
Ficou um túnel estreito e sombrio entre nós onde a luz não cabe
de onde foge com medo dos furos
Relembro o olhar claro, terno e destemido
um olhar de luz inocente a escapar-se pela separação entre as pestanas
e a viajar no silêncio
Entra à pressa pela nuca directo à testa
fecha-me a boca cerra-me os olhos e sela-se num abraço
Fugiu sem saber se voltava e agora não vem
agora perdeu-se e eu despedi-me
larguei-o e caiu esmagado num chão sem fundo
Já não volta porque não soube sequer que existiu ou porque foge de si mesmo numa estrada deserta de confettis de vidro cinzento
Não volta porque para trás ficou uma poeira estilhaçada um muro de penumbra impenetrável
Não volta o olhar porque tropeçou na amplitude do próprio movimento e passou a andar rente ao chão
entalado entre os confettis cinzentos de vidro
Mas a luz de entre as pestanas ficou aninhada nas traseiras da nuca
uma parte pousada na dobra dorida da testa
E vem às vezes num abraço
que se evoca para relembrar a memória de que existiu e foi real e concreto
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