Sobre o que vale a palavra... noutra destas madrugadas...

Encontramos-nos entre os sentidos das palavras... Porque vivemos para além delas. É este o sentido da intersubjectividade. A única forma de verdade que reconheço, muito além dos factos. 

As palavras são uma das mais puras formas de democracia... assim como o é a criatividade. Assumir sobre elas poder, qualquer que seja a forma,- impedindo, silenciando ou reclamando sobre elas propriedade - é desapossa-las, e a quem as usa, da última das liberdades. 

Tenho tido conversas sobre e com as palavras. Uma das mais recentes sobre a palavra "tolerância". Para começar e evitar definições "incautas":

tolerância | s. f. / to·le·rân·ci·a / 1. Condescendência ou indulgência para com aquilo que não se quer ou não se pode impedir. 2. Boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas. 3. [Medicina] Faculdade ou aptidão que o organismo dos doentes apresenta para suportar certos medicamentos. 

"tolerância", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/toler%C3%A2ncia [consultado em 21-06-2016]. 

A linguagem, tanto quanto as palavras e qualquer outro produto das faculdades humanas, é subjectiva. Significa isto que é construída e, consequentemente limitada, pelo universo do continente e conteúdo de quem a aplica. Neste sentido é, queiramos ou não, altamente freudiana. Mas a linguagem é também um exercício... multi-contruído. Se o primeiro uso/sentido do substantivo feminino "tolerância"  (1), segundo o dicionário aqui citado,  supõe a superioridade do que tolera - sujeito ou objecto - e, consequentemente - não é demais dizê-lo-, a inferioridade do objecto/sujeito sobre o qual/quem age, o segundo (2) no entanto, e não será totalmente por acaso que aqui surge (depois) - talvez em jeito de alerta, não sendo por tal de menor importância-, pressupõe reconhecer que superioridade e inferioridade são conceitos, tanto quanto condições, relativos e provisórios. Num mundo ideal, o primeiro sentido não existiria e, assim, o segundo não o seria. Se longe de ideal está (e estará?) o mundo, resta-nos não ignorar os alertas e assim apurar os sentidos. Haverá para isso que começar por tolerar, para que seja depois possível, pelo exercício mútuo e múltiplo da (inter)subjectividade, construir aquela que quisermos assumir como (temporária) verdade. 

Porque às palavras nem sempre as "leva o vento"... A linguagem e as palavras não são dos linguistas, nem de outra qualquer figura de autoridade. Por tanto, étimos e morfologismos à parte, a linguagem é pública tanto quanto o é partilhada... é tanto de todos como de cada um. É viva e por isso livre. Tanto quanto nós. Que as palavras e os seus múltiplos sentidos permitam discordar, tanto quanto regressar dos desencontros. Que a palavra jamais seja traída e que, como nós, "respire" na mais plena liberdade. Porque à palavra importa valer(-nos)...

Nota: Importariam a propósito deste texto citações e referências. Algumas são segredos meus, outras d@s outr@s autor@s. Sem qualquer desrespeito, por aqui ficam tácitas e (eventualmente) subtis. Importou evitar "autorismos" inoportunos e titularidades excessivas. 

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