Poema-manifesto, pós-Herberto


Tudo é sexual...
Nós sabemos de Freud
e sabemos isto também

O desejo reduz
Desenha-se vão
a traço grosseiro
É reificação e superfulia
do ímpeto narcísico de poder
E dele é exercício
de exploração
de controle

É assim
e não temos como não o aceitar...

...que o libidinal é uma pulsão de vida
Pura
Tanto quanto o é da morte
Da construção
tanto quanto da destruição

Porque a destruição é o risco do poder
exaltado e incauto da vida.
E é por isso que
queiramos ou não
o libidinal
que se empossa
destruidor avassalador
sempre espreita
por entre as promessas do Amor

Para nos protegermos
pouco mais nos resta
além do tímido valor dos compromissos
Não dos legais ou sociais
mas dos de carácter
e da absoluta e genuína verdade

Para isto serve a honra e a fidelidade
As genuínas
não as protocolares
A bondade a admiração

Para isto há que manter intacta na memória
envergando-a vencedora
sobre o esquecimento da corrida centrifugadora dos dias
com a coragem que vence
todos os frágeis medos humanos
há que manter intacta a essência do Amor verdadeiro

Aquele que abre e cura os corações
Que cuida os corpos como seus templos
e as almas no abrigo do tempo que corre

Aquele que
sempre que preciso e convocado
e em tantas outras ocasiões in/esperadas vem e tudo vence
Vem e comove

E quando os corações tocarem
já no tom
quando prontos e aquecidos
aí nesse Agora
se calhar já posso dizer-te...

que hoje
quando acordei e ainda ensonada
perdida entre o sonho e a realidade
sonhei acordada envolver-te
com as mãos mornas
delicadamente pousadas
e depois firmes
Firmes não
Convictas livres seguras
Depois
com a ternura suave
lenta perdida
do relevo subtil dos meus lábios
Finalmente
com todo o interior
do meu corpo Inteiro

Nesse momento
de olhos voltados para dentro
e sem que por um segundo
deixássemos de nos olhar
faríamos parte um do outro

E os grilhões
que nos apertam os corações
cansados perdidos descrentes
rebentar-se-iam
numa explosão de vida
num fôlego de paz

Nesse momento
deixaríamos de lutar
lunáticos erráticos exauridos
contra mostros que nos habitam
e nos outros-em-nós
resistentes do nosso passado

Só aí seríamos finalmente LIVRES

É assim a natureza do desejo libidinal
num Amor verdadeiro

Livre e fiel

Natural e invensível...
Terno e feroz...

Assim... acontece assim...
quando os Universos se cruzam
e cuidadosamente se explodem

(21.Jan.2017, reescrito a 28.Jan.2017 e 4.Maio.2017)

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