Amar e ser Mãe, além de mim e da minha avó...




Faria hoje 94, 95 anos?! Não sei ao certo sobre estes detalhes... podia também ter-me esquecido que neste dia faria anos... ajudou-me à lembrança ontem alguém ter comentado "hoje é dia 9"... Adicionei um lembrete à minha agenda google e agora, com a cloud e as sincronizações várias, a data jamais será esquecida. Pelo menos enquanto durar esta tecnologia e não se desentender com a próxima. 

Lembrar a minha avó dispensa no entanto lembretes e tecnologia... não tem dias, nem datas marcadas... Ontem tod@s saíram para o sol e piscina enquanto que eu me demorei nas lides da cozinha... tinha uns pensamentos para arrumar e um silêncio para acolher... Limpar bancas e fogões é-me sempre útil nestas alturas. 
Algures entre o limpar dos recantos das bocas de gás e o último acto de puxar o lustro ao alumínio, surgiu-me uma das suas sábias frases... daquelas que como tantas outras desvalorizei... "sabemos como saímos mas não sabemos como entramos", dizia em relação ao imperativo de deixar toda a casa arrumada antes de sair. Ontem a frase fez-me mais sentido... porque na verdade só pude, como sempre, controlar o estado de espírito com como me dispus a sair e foi necessário aceitar que o resto não conseguiria controlar. Como a minha avó, tenho o "coração na boca"... zango-me hoje em dia menos do que ela... mas nunca deixo de o fazer e de dizer o que tenho a dizer... às vezes com mais carinho, às vezes com mais mágoa... mas sempre com o coração acima do além da boca... 

Mesmo não sendo óbvio, o "controlo" que pude exercer, no tempo em que me dediquei a limpar o fogão e a banca, em que me recolhi para conter e acolher os minhas dores e fragilidades, foi aquele de que precisei para controlar o possível que a mim me cabia.
Terminadas as lides domésticas fui ao encontro d@s restantes... mais tarde regressamos a casa... outr@ de nós cozinhou o nosso jantar... eu ajudei, dois descansaram... Jantámos... falámos de "tudo", mas mais de "nada"... depois, do que sei, um a um (fui a primeira), recolhemos cedo... a mesa e a cozinha ficaram para o dia seguinte... Na manhã que hoje se seguiu começou tudo de novo... a configuração poderá ser outra mas o que não muda é que nesta "família improvisada" há vários pais e várias mães... e eu aprendi a ser "mãe" (principalmente) com a minha avó... porque com ela aprendi "tudo"... o que já aprendi e o que ainda vou aprender... as lições que sigo à risca, as que "revolucionei" e até as que preverti. Talvez à minha avó fizesse confusão esta vida que levo e as minhas "famílias"... ia contar-lhe, ouviria um "ai minha filha...", seguia-se um "isto hoje em dia"... eu contra-argumentaria, com mais ou menos paciência, e no fim saíriamos ambas enriquecidas, mesmo que não o admitíssemos.

A ligar o antigo e o moderno, os costumes e as suas perversões, há o Universal e é este o papel da tradição... foi isto que herdei da minha avó... Amor é Amor, Família é Família... os dois estão para além do tempo, do género e da idade. 
Nem eu nem a minha avó sabemos tudo, não fomos definitivamente perfeitas... mas juntas, como outras mães e filhas, avós e netas, estamos mais perto... e nas heranças que deixarmos, seremos imortais...






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